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Salão verde

| em: 05/06/2014

Salão verde

Aquecimento global, escassez de água e esgotamento das fontes não renováveis de energia são alguns dos maiores problemas ambientais que a humanidade enfrenta. A exemplo de outras empresas, o salão de beleza também precisa assumir sua responsabilidade ecológica para reverter esse quadro. “Com medidas bastante simples, o dono do negócio, junto com seus funcionários, pode preservar o meio ambiente e, indiretamente, reduzir algumas das suas próprias despesas”, diz Carlos Oristânio, consultor de gerenciamento e administração de salões, de São Paulo. Como deve acontecer em qualquer residência, loja ou escritório, quem gerencia um estabelecimento de beleza tem de pensar sempre nos três “rs” da ecoeficiência: reduzir, reutilizar e reciclar.

A ordem é economizar

O consumo de energia elétrica em um salão pode ser diminuído de várias formas, a começar pela substituição das lâmpadas incandescentes pelas fluorescentes. Elas duram até dez vezes mais e gastam 75% menos energia. Após passar por uma ampla reforma no ano passado, o L’Officiel III, em São Paulo, implantou um sistema segmentado de iluminação e trocou as lâmpadas convencionais por tipos que emitem menos calor. “Dessa maneira apenas as salas que estão sendo ocupadas são iluminadas e o ar condicionado não fica tão sobrecarregado, já que as novas lâmpadas aquecem pouco. É uma dupla economia”, garante Marcelo Calçolari, administrador do salão.

Projetar o ambiente de modo que a luz natural possa ser bem aproveitada e instalar sensores de movimento nas áreas internas são outras medidas para diminuir bastante a conta no fim do mês. A experiência da rede Werner Coiffeur, no Rio de Janeiro, comprova o sucesso dessa iniciativa. Há cerca de um ano, todas as franquias passaram a contar com sensores nos banheiros, na copa, no estoque e na parte administrativa. “Conseguimos baixar em 15 % o consumo de energia sem que houvesse nenhum prejuízo à qualidade do atendimento. Ao longo de 2008, vamos implantar um projeto para reciclar as embalagens de produtos”, diz Fabiana Barbato, gerente de marketing da rede.

Secadores de cabelo e outros aparelhos devem receber manutenção periódica, pois uma vez desregulados consomem mais energia que o normal. “Parece óbvio, mas não usar o ar condicionado se estiver frio e desligar a televisão quando não há clientes são algumas providências que contribuem muito para a redução no consumo. Tirar os aparelhos eletrônicos da tomada quando não estão sendo usados também é importante, pois as luzes de stand by continuam consumindo eletricidade”, explica Regina Laginestra, presidente da ONG Reviverde – Instituto Ambientalista da Cidade do Rio de Janeiro.

Estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU) prevêem que, até 2030, um em cada três habitantes do planeta não terá acesso à água potável. Com essa preocupação em mente, uma campanha de conscientização para evitar o desperdício deve ser promovida entre os funcionários e clientes do salão. Os irmãos Ivaldo, Nilton, Marcos e Pedro Lima, donos do Stylo Hair, em Curitiba, foram além: mandaram instalar, nos lavatórios, mangueiras que só funcionam quando pressionadas. Também providenciaram a troca das torneiras comuns dos banheiros pelo modelo que interrompe o fluxo automaticamente. “Percebíamos que muitos profissionais massageavam o cabelo da cliente enquanto a água jorrava na cuba. Com essas duas ações, reduzimos em mais de 50% o gasto”, conta Ivaldo. No L’Officiel III, a alternativa encontrada para evitar o desperdício foi trocar o sistema de aquecimento da água. O boiler acabou substituído por aquecedores automáticos a gás, como os que são usados em residências. “Graças a essa mudança, ficou mais fácil e rápido estabelecer a temperatura ideal. Antes, era preciso deixar a mangueira aberta e esperar muito mais tempo. A cada 30 segundos, um litro era jogado fora” afirma Marcelo Calçolari. Outra medida importante é fazer a manutenção constante do encanamento a fim de prevenir vazamentos. “Preferir vasos sanitários de seis litros ou com caixa acoplada também reduz o consumo”, lembra Carlos Oristânio.

Aproveitamento total

Talvez o maior desafio do salão ecológico seja descobrir formas de reutilizar recursos e manter a qualidade dos serviços prestados. Segundo Regina Laginestra, uma boa saída é reaproveitar a água usada nos lavatórios para a descarga dos banheiros, sem que isso implique, evidentemente, no padrão de higiene. “Um engenheiro ou arquiteto pode estudar uma boa solução para implantar esse sistema e redirecionar a água servida”, garante.

Reciclando idéias

Ao contrário do que se imagina, há muito a se reaproveitar em um salão. Garrafas de água mineral, revistas e jornais antigos, além de recipientes e embalagens de produtos, podem ser encaminhados a uma cooperativa de catadores ou a uma empresa sucateira. “Para reciclar, a primeira providência é fazer a separação do lixo. Metal, plástico, vidro, papel e material orgânico, como restos de cabelo e cera de depilação, devem ser armazenados isoladamente. Um simples copo com vestígios de café pode ser suficiente para inutilizar quilos de papel reciclável”, explica Carlos Oristânio. Há mais de quatro anos o Stylo Hair faz a separação do lixo e encaminha jornais, revistas e latinhas de refrigerantes (recolhidas na lanchonete do salão) para a Casa de Apoio Mãe Solidária, em Curitiba, voltada para os filhos dos catadores de papel. “A cidade foi pioneira em reciclagem no país e nos orgulhamos de fazer parte desse movimento. O material que doamos é transformado em cartões, blocos e outros artigos de papelaria que a própria instituição comercializa. Além de preservar o meio ambiente, damos nossa contribuição social”, diz Ivaldo Lima. As lixeiras de coleta seletiva podem ser instaladas no próprio salão, ao alcance dos clientes. No L’Officiel III, Marcelo Calçolari estuda um plano para reciclar as embalagens plásticas de xampus, cremes e outros cosméticos. “Estamos em busca de uma entidade idônea que possa recolher esse material. Nossa idéia, futuramente, é incentivar, inclusive as clientes a devolverem as embalagens vazias. Queremos contagiar um número maior de pessoas sobre a importância da reciclagem do lixo”, conclui.

Na sacola

As bolsas plásticas usadas na revenda de produtos representam outro grande problema para o meio ambiente. Segundo especialistas, elas levam, no mínimo, 100 anos para se decompor na natureza. A solução para esse problema é preferir sacolas feitas de pano ou material biodegradável, as chamadas ecobags. O salão Jean Yves Coiffure, no Rio de Janeiro, adotou a idéia e também passou a fazer a coleta seletiva do lixo. A mesma regra vale para os copos plásticos que servem cafezinho e outras bebidas. O melhor é optar pelos reutilizáveis, feitos de vidro. O planeta agradece.

Bases para o futuro

Quem pensa em abrir ou reformar um salão precisa se preocupar com a infra-estrutura do espaço. Instalar sistemas para a captação da energia solar e da água da chuva são alguns exemplos do que pode ser feito a fim de poupar recursos naturais – e, por que não, dinheiro. A Internet é uma boa fonte para saber mais sobre a preservação do meio ambiente, na empresa ou em casa. Confira alguns sites:

www.reviverde.org.br

www.planetasustentavel.com.br

www.compam.com.br